Existe algo mais agradável que a sensação de liberdade ao pedalar uma bicicleta? O vento no rosto, a paisagem passando e o corpo em movimento, fazem dessa atividade uma das mais prazerosas que existem. Seja para se transportar de um lugar ao outro de forma sustentável, seja para fazer exercício (até mesmo em aulas de spinning) ou seja para competir, andar de bicicleta traz inúmeros benefícios para o corpo e para a cabeça. No entanto, nem tudo é perfeito. O corpo também sofre com as sobrecargas de se pedalar. As mãos sofrem grande pressão devido ao longo tempo que passam apoiadas no guidão e acabam sendo responsáveis por um terço das lesões em ciclistas. A reclamação mais comum é a “dormência nas mãos”, a sensação de formigamento na palma da mão e nos dedos. Isso pode ser uma lesão conhecida como “paralisia do ciclista” ou “paralisia do guidão”.
Afinal, que é a “paralisia do ciclista”? Como ela acontece?
A “paralisia do ciclista” é uma lesão que ocorre no nervo ulnar — um dos três principais nervos da mão - que passa por um túnel na altura do punho, chamado canal de Guyon, e é responsável pela sensibilidade do quinto dedo (mínimo) e metade do quarto dedo, além dos movimentos finos da mão. A lesão ocorre quando o nervo é comprimido, comprometendo a sensibilidade e/ou os movimentos da mão. Além da pressão exagerada na região hipotenar (localizada na palma da mão, abaixo do dedo mínimo), também favorecem o problema a hiperextensão do punho (principalmente quando o apoio das mãos é feito na parte inferior do guidão (sobretudo em bicicletas de estrada) e a predisposição em relação à anatomia do canal de Guyon. No começo, quando o ciclista encerra o exercício, os sintomas geralmente desaparecem rápido, mas com o passar do tempo, podem persistir por dias, semanas ou até meses.
E como devo tratar?
Quando a lesão se torna crônica, ou seja, a dormência e o formigamento persistem por algum tempo, o tratamento pode se feito com medicamentos anti-inflamatórios, imobilização e fisioterapia, além de ser indicado evitar a pressão sobre o nervo. Em casos mais graves, procedimentos cirúrgicos podem fazer toda a diferença.
Como prevenir?
Para aliviar a pressão sobre a região desse nervo, a dica é alternar a posição das mãos sobre o guidão e mantenha o punho mais alinhado com o antebraço. Também é indicado que o ciclista utilize luvas com proteção acolchoada. Esticar as mãos e agitá-las de tempos em tempos, também pode ajudar. É fundamental a aquisição de uma bicicleta com tamanho e ajustes apropriados, com auxílio de um bom profissional. Mantenha uma postura adequada e sempre fortaleça antebraço e ombro para que estes, absorvam melhor o impacto da crepitação ao pedalar. Antes e depois de pedalar, alongue-se, estique braços, punhos e dedos. E se o desconforto nas mãos persistir, não demore em procurar um médico especialista em mãos.
Porque mãos dadas podem mais.
Dr. João Nakamoto
CRM 104.340
Formado em Medicina pela USP e especializado em Ortopedia e Traumatologia e em Cirurgia da Mão pela USP, responsável pelo Grupo de Mão e Microcirurgia da UNICAMP, médico do Núcleo de Cirurgia da Mão do Hospital Sírio Libanês e médico do Grupo de Mão do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.